
"É natural que a alguém lhe pareça estranho que uma estalagem que ainda se encontra em território italiano tenha um nome alemão, mas a coisa explica-se se nos lembrarmos de que a maior parte dos hóspedes que aqui vêm são precisamente austríacos e alemães que gostam de sentir-se em sua casa. Razões afins levarão um dia a que, no algarve, como alguém terá o cuidado de escrever, toda a praia que se preze, não é praia mas beach, qualquer pescador fisherman, tanto faz prezar-se como não, e se de aldeamentos turísticos, em vez de aldeias, se trata, fiquemos sabendo que é mais aceite dizer-se holiday's village, ou village de vacances, ou ferienorte. Chega-se ao cúmulo de não haver nome para loja de modas, porque ela é, numa espécie de português por adopção, boutique, e, necessariamente, fashion shop em inglês, menos necessariamente modes em francês, e francamente modegeschäft em alemão. Uma sapataria apresenta-se como shoes, e não se fala mais nisso. E se o viajante pudesse catar, como quem cata piolhos, nomes de bares e buates, quando chegasse a sines ainda iria nas primeiras letras do alfabeto. Tão desprezado este na lusitana arrumação que do algarve se pode dizer, nestas épocas em que descem os civilizados à barbárie, ser ele a terra do português tal qual se cala."
in A Viagem do Elefante
9 comentários:
Não gosto desse palhaço, mas nisto até tem razão. Só que depois estraga tudo ao dizer que deveríamos ser um país chamado Ibéria com capital em Madrid...
Abraço!
:))
:) bem haja o seu regresso...já me tinha perguntado o seria feito de si... Bem-vindo!
Olha, afinal o homem até pontua:)). Faço um brilharete com este genero de piadas no meio que frequento, até parece que já li alguma coisa dele:).
Enfim, o grande ausente foi o Camarinha mas não se pode ter tudo e hoje aprendi aqui que o Saramago diz q deveriamos ser espanhois, mais informação para novas piadas sem ter que o ler:))
Boa semana!
Eu achei o livro excepcional. Cheio de imaginação e um hino à língua portuguesa.
Um abraço.
Ena, gostaste do presente da malta :)
Abraço
... bem apanhado este "o português tal qual se cala". Que o outro - o que se fala, há muito que tem os dias contados. Mas isso é coisa de somenos importância, não é verdade?...
Lol, bom é preciso entender o em que consiste essa ideia da Ibéria caro rafeiro perfumado...Seriam estados-nações independentes à maneira da UE, Galiza, Pais-Basco, Portugal e aí sim com mais precisão Espanha. É uma ideia mui antiga e é necessário que se recorra à história para entender essa afirmação. Não estou com isto a dizer que concordo, mas provavelmente se isso tivesse acontecido a peninsula ibérica (lá vamos nós outra vez) estaria muito mais estável, económica e socialmentre.
P.S. Não sou defensor de Saramago mas ele nunca disse que queria que fôssemos espanhóis mas antes que fôssemos ibéricos no pleno sentido da palavra.
olha, parece-me que é mais um livro que me fará aproximar-me da escrita de saramago depois das intermitências...
Enviar um comentário