Chega de noite. Naquela fase da noite em que não se distingue bem se a noite ainda é velha ou se a madrugada acabou de nascer. A oscilação do tempo também ela a sente. Ora se sente nova, com a vida, e uma infinidade de amores e desamores pela frente, ora velha, com receio que a fonte dos sentires e dos afectos seque. Longa vai a noite ou curta está a madrugada e ela chega, com pezinhos de lã, para que ninguém lá na casa note a sua presença. Tem vergonha, mas o desejo é mais forte. Dirige-se para o quarto dele. Ama-o, beija-o, com a sofreguidão de quem desespera, com medo que a idade a faça deixar de ser desejada. Passa a noite toda naquilo. Sai de madrugada. Naquela fase da madrugada em que não se distingue bem se a madrugada ainda é velha ou se a manhã acabou de nascer. Pensa-se velha e sabe que a fonte dos sentires e dos afectos secou. Sente-se nova, com a esperança de ter ainda a vida e uma infinidade de amores e desamores pela frente. Longa vai a madrugada ou curta está a manhã e ela sai, com pezinhos de lã, para que ninguém lá na casa note a sua ausência.
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10 comentários:
que mais posso dizer:
... obrigada por escreveres.
:)
As noites encerram segredos e medos, entregas e despedidas.
é sempre tempo de...navegar
:)
muito bom...doce, calmo e poderoso...
Parabéns...
hum...
bom fim de semana
beijo
Lindo.
Uma vénia pelas tuas palavras que desfiam sentires, sejam novos como a noite ou a madrugada já velha. Ou será o avesso?
Um beijo
Bela prosa, sim senhor!
Voltarei para mais ler...
Beijo
É poesia ou é prosa? É as duas coisas.
que delícia
HN
então, homem?
foste-te outra vez?
è tudo tão verdade. Será que com a idade também nos tornamos madrugadas, sobretudo as de Inverno mais breves e frias?
Adorei.
Bj.
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