quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O dia em que o tempo tirou férias

Houve um dia em que o sol não nasceu e em que a manhã não apareceu. As pessoas não acordaram para cumprir as suas rotinas diárias, os que não se deitaram ficaram imobilizados num sono profundo, petrificados nos passeios das ruas, os pássaros não cantaram, os jornais ficaram retidos nas gráficas, com os operários colados às máquinas, presos no tempo que deixou de o ser. O lixo não apodreceu e os cadáveres já não se decompunham. O vento não soprou e a terra, essa, não girou... permaneceu imutável como se todo o Universo tivesse sido congelado. O curso dos rios parou, as ondas deixaram de embater na areia das praias e nas rochas das falésias... Tudo deixou de ser tudo e passou a ser outra coisa qualquer que ninguém poderia saber o que era. As nuvens ficaram fixas no céu, estáticas como se tivessem sido pregadas num papel de cenário sem princípio nem fim. Os corações cessaram os seus batimentos e os cérebros não emanaram mais infinitos impulsos magnéticos (ou serão eléctricos?).

11 comentários:

Henrik disse...

(eléctricos) é impressão minha ou parece um dia habitual em Portugal? ;o)
Bem vindo de volta! Agrada-me a leitura dos teus textos, como o vinho tinto que não bebo mas que imagino ser muito bom (não é a melhor metáfora, sei-o, mas não deixei-me levar pelo estado Woody Allen em que me encontro hoje, fico à espera de mais textos ;p) Abraço!

L. Romudas disse...

Bem, eu acho que são magnéticos. Os neurónios, esses sim, emitem impulsos electricos.

Eléctricos, magnéticos ou o raio que os partam, a verdade é que o texto está muito bom... Gostei muito, para não variar. Agora resta saber quem terá sido o sacana que carregou no "Pause".

A. João Soares disse...

Grande pesadelo!
Um texto muito bom , com reflexão muito profunda, que nos contagia na meditação. Parabéns.
Demonstra bem que o TEMPO é um recurso muito precioso. O ditado «tempo e dinheiro» fica aqui muito bem demonstrado.
Mas, curiosamente, os nossos governantes não dão valor ao tempo e continuamos parados a ver os outros Países a avançar rápido e deixar-nos a contemplar a paisagem sem nos lembrarmos de que há metas a atingir.
Detesto as correrias, mas mais detesto estar parado. ´É preciso viver sem pressa mas sem parar, com perseverança calma.
Abraço

mymind disse...

boa reflexao!

Marta disse...

E a vida deixou de existir!

bjs

Catarina Soutinho disse...

Ainda sou daquelas que filtra o tempo e o apreveita devagarinho.

Sempre pensei como seria se ele parasse de facto...

Obrigada pelo comentário no Valeta Comum,
Abraço,
Catarina

astuto disse...

Será que algum dia, pela manhã, vamos acordar e o sol não vai aparecer?

Cumprimentos. Bom texto.

Storm disse...

e foi de férias para onde???

eskisito disse...

O tempo foi de férias? Isso explica a travadinha que anda para os lados do meu cérebro.
Um abraço

Leonor disse...

Pior que existir ou não é realmente a agonia de estarmos no meio. Ficamos assim, existimos e ao mesmo tempo não.

Mateso disse...

..e foi o vácuo, a antimatéria... o princípio ou será o fim?
Bj.