segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Outra vez a mulher que vende poemas

Já me reencontrei mais duas ou três vezes com a mulher que vende poemas. Ela no princípio aparenta não me reconhecer, mas depois lá se lembra: "Ah pois, você é o tal que não tem dinheiro para comprar poemas". Ao que eu não sei como reagir, porque se por um lado não faço tenções em gastar dinheiro a comprar poemas avulso, por outro ninguém gosta de se ver confrontado com a sua condição de pelintra.

Depois de várias noites sem dormir, lá pensei em arranjar uma solução mais ou menos honrosa para a próxima vez que a mulher me tentar vender um poema. Proponho-lhe aquilo a que nos mercados financeiros se chama um swap, ou, mais simples, uma troca (eu utilizo a gíria económica porque estou a encarar este assunto como se de uma grande transacção em bolsa se tratasse). E foi isso que aconteceu hoje. Saí do metro do Chiado e vi-a. Ainda hesitei, mas acabei por avançar resoluto na sua direcção. Ela dirigiu-se para mim e nem a deixei perguntar se eu gostava de poesia. Disse logo: "Já nos conhecemos". E ela: "Ah pois, você é o tal que não tem dinheiro para comprar poemas". Não me deixo amedrontar: "Pois, mas, se quiser, da próxima vez eu trago um poema meu e trocamos". Resposta: "Tudo bem, traga. E se eu achar que for bom trocamos". E eu, que pensava ingenuamente que um poema é um poema e pronto, fiquei assim um pouco para o atrapalhado. É que parecendo que não, a minha poesia é assim a dar para o fraquinho. Vá, ok, vou ser sincero... É assim um bocadinho muito má.

Tinha de pensar num plano de recurso. E rápido. Lá lhe perguntei: "E pode ser prosa?". Ela disse que sim, até porque escreve prosa poética e tudo. Fiquei mais aliviado e ficou apalavrada a altura do "negócio". Ou este Sábado, ou durante a próxima semana. Eu estava a pensar em levar para a troca o texto da "Mulher que Vende Poemas". Mas, se me quiserem ajudar, aceito sugestões. E tenho de publicar um "o Pensamentos SGPS errou". Parece que afinal o poema só custa dois euros.

PS - Peço desculpa pela ausência mais ou menos prolongada e por não ter acompanhado os vossos blogues (vou tratar do assunto esta semana).

PS I - Desafio-vos a irem ao Chiado este Sábado ou durante a próxima semana para comprarem um poema à tal mulher, ou então, para lhe sugerirem trocas. Mas, apesar de ela me dizer que iria estar por lá naquela altura, não posso garantir que efectivamente isso aconteça.

PS II - A Gasolina farta-se de me mimar. Agora distinguiu-me com um Certificado do Blog. Já estou a ficar sem jeito. Mas são pessoas como ela que nos estimulam a escrever e a pensar mais e mais. Obrigado.

21 comentários:

Leonor disse...

Não tinha lido o primeiro texto. E portanto li tanto um como o outro. Gostei, deu que pensar. Será que toda a arte se pode confinar a puras transações? A arte caracteriza unicamente pelo bom ou mau? Haverá critérios estipulados matemáticamente? Tanta, tanta resposta. Em tempos Platão considerava que arte e artista era unicamente o que conseguia fazer cópias idênticas do que existia no mundo. Outros (que não me lembro que) afirmavam que só seria arte se o artista fosse capaz de transpôr as suas emoções. E outros que defendem que seria apenas arte se desperta-se no público emoções. E tudo isto teorias essencialistas e antigas. De inúmeros filósofos que sinceramente só me lembro de Platão (desculpem-me por não ir pesquisar). E com um infidável número de outras teorias, em que é que ficamos?
De qualquer modo, gostei imenso do texto. Deu que pensar

O Aprendiz de Jurista disse...

Não se deixe enganar no negócio meu amigo.
Lembre que a «a mulher que vende poemas» é bem mais experiente no negócio.
Vai tentar apanhar-lhe o escrito “ela por ela”, não vá nessa.
Abraço do Aprendiz.

Henrik disse...

Ah raios!!! então era isso, os poemas vendem-se e andava eu a tentar escrevê-los, e pior inventá-los, triste de mim...lol.
Olha que não sei, eu cá entregava-lhe precisamente esse texto, porque uma boa poeta - recuso-me terminantemente a utilizar a palavra poetisa, pois é ridícula - verá nessa sátira um elogio, eu veria:)

Henrik disse...

P.S. só para fazer ressalvar que recuso terminantemente a utilização da palavra poetisa e no entanto já a escrevi duas vezes, vêem como é facílimo cair no ridículo? é que se duvidam basta ler-me...

Henrik disse...

É verdade - isto das insónias é chato -, dizes no primeiro texto algo como: «Se o autor não se distancia do poema é porque ainda não atingiu a maturidade literária, porque as referências autobiográficas directas não aparecem nas fases maduras dos grandes poetas», sei que tem muita perspicácia esse argumento, mas é em parte enganador, nenhum poeta que se preze se pode distanciar na totalidade daquilo que escreve, a poesia é hesitação, ao contrário da prosa, portanto exige-se que no poema se ponha o autor perante si ou algo seu. Não quero dizer com isto, que tenha que escrever sobre si, mas que é sempre algo pessoal - não só por ter sido escrito por essa pessoa - pois é sempre um ponto de vista - mesmo que ficcional, e portanto algo mental e verdadeiro - que se larga no poema. Os melhores, os que detêm a maturidade literária - penso num Jorge de Sena, por exemplo - deixam sempre mais de si, do que da ficção de si.

Marta disse...

Bem vindo de volta! :)

mymind disse...

n sabia k havia uma mulher a vender poemas axim, lol

astuto disse...

Li os dois texto e adorei. Adorei a história da mulher, a forma como escreves e, sobretudo, o lado poético da coisa, é mesmo muito bonito.

Parabéns e continua assim.

Gasolina disse...

A saída para o Chiado é já de si uma entrada na quinta dimensão: a mulher que vende poemas, o homem que assobia continuadamente o "Grandola" acompanhado por belissimos cães, o Pessoa que vê quem passa. Se escreveres "A MULHER A QUEM EU VENDI UM POEMA" tenho a certeza que a garantia do negócio fica cumprida. E o teu remorso redimido.

Gostava de assistir a essa troca.

Um beijo.
Se eu não estiver presente quero saber o resto da história.

Catarina Soutinho disse...

Só para deixar um olá. As férias foram boas, e o Valeta Comum já está activo.
Um abraço,
Catarina

Dhyana disse...

olá.
Passei para dizer isso mesmo e dizer-te que adorei o teu comentário.
beijos saudosos...

Anónimo disse...

O amigo RB, claro que nos vais contar se houve negócio e os pormenores? Ok! Nós esperamos.

eskisito disse...

Fabuloso. Tens que relatar o encontro final. E sim, o primeiro texto é mesmo uma excelente sugestão.
Um abraço

Diogo disse...

Bom texto.

Mas faça o seguinte: vá ao BES e peça uma simulação de um crédito-poesia a seis meses indexado à Euribor. Ou seja, mergulhe já nos mares revoltos das musas e comece só a pagar em Janeiro.

Gasolina disse...

Quando tiveres acabado o negócio dos poemas (bem que eu gostava de ler o poema que vais trocar...), passa lá no Flor.
Está lá uma taça para ti.

Beijo e bom fim de semana.

A. João Soares disse...

Um actividade a apoiar pelo ministério da Cultura. Realmente é a melhor forma de difundir a arte democraticamente; só compra ou troca quem quiser! Quem escreve gosta de ser lido e, desta forma, escusa de esperar um ano a amontoar folhinhas numa gaveta para depois publicar um livro. Assim, vai difundindo à medida da produção!!!
Abraço
Do Miradouro

Laurentina disse...

Olá sejas bem aparecido ,...adorei o primeiro post sobre o assunto e agora este para me encher as medidas!

Ora vamos la ver se consigo dar-te um conselho...já pensaste contactar o " Joe Berardo"? É que esse anormal compra tudo ou seja ele vai lá contigo ...trata do negócio , a mulher fica toda contente e depois acaba por publicá-lo como se fosse obra dele , vais ver que para alem de poster's transformados em obras de arte no CCB , qualquer dia abre uma livraria com patrocinio do M.C. e ainda pode ser que a ti te toque alguma coisinha , à mulher não garanto , mas tu podes virar acessor do " cabeçudo"...

Eh eh eh eh eh eh a brincar , a brincar ...

Esta semana vou lá passar na saída do metro do Chiado , com um bocado de jeito assisto á tua transacção...!!!

Boa semana
Beijão grande

Anónimo disse...

O chiado é "o" detalhe:), consigo visualizar ali a "negócio". Quando te li imaginei o homem que destribuia abraços...não sei porque faço estas relações...

Touro Zentado disse...

Um Conto de... está de regresso! Esperamos rever-te por lá!
umcontode.blogspot.com

Ácido Cloridrix HCL disse...

Fui ao Chiado no Sábado,,,, mas ainda não tinha lido o teu post,,, da próxima espero encontrar essa tal mulher dos poemas,,,, deve ser espectaculo,,,, O nosso “Dicionário do Sexo” está agora na letra “H”, Hemofagia,,,, sabe o que é isso????? Saiba, ou não saiba, gostaria de ter o teu sábio e imprescindível comentário, vamos lá, a tua sabia opinião é precisa,,,, obrigado,,,, HCL
Link: http://sexohumorprazer.blogspot.com/2007/09/dicionrio-do-sexo-em-debate-g-ponto-g.html

S* disse...

então, e não há novidades da mulher que vende poemas?
Estes textos embalam-me... sinto que recebo grandes presentes, oferecem-me sonhos e encantos nestas palavras. Estou já à espera de mais...

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