domingo, 14 de outubro de 2007

A mulher que vende poemas (mais uma vez)

Afinal o negócio, tal como eu o planeara, não se concretizou. Tudo porque me esqueci de andar acompanhado por um texto que servisse como moeda de troca por um poema da mulher que os vende no Chiado. Mas sempre aconteceu uma transacção. Acedi, finalmente (também já não era sem tempo), a comprar-lhe um poema, com direito a desconto e tudo (obviamente que não o irei reproduzir aqui, porque respeito os direitos de autor).Também não tenho nenhuma crítica a fazer, nem a pretensão de dizer se é bom, se é mau, se é de qualidade ou não.

Agora, a mulher que vende poemas já me reconhece, já me cumprimenta com dois beijinhos e tudo e até me disse o seu nome e me fala sobre a sua vida. E parece que afinal a poesia avulso é matéria tributável. Uns dias depois do "negócio" reencontrei-a mais uma vez. "Ultimamente não a tenho visto por cá". "É que ultimamente tem andado por aqui a polícia.", responde-me. "A polícia? Vender poemas é crime?", interrogo. "Mais ou menos, tenho de obter uma licença na Câmara de Lisboa para os vender e tenho de me colectar nas Finanças. Só o pedido da licença são 50 euros...". Afinal as poesias, e muito provavelmente as ficções, são matéria tributável.

Percebo agora porque é que a burocracia é inimiga da poesia e, em última instância, do pensamento. De qualquer das formas, se não tiver de pagar imposto de selo, ainda tentarei trocar o meu texto por mais um poema.

6 comentários:

Anónimo disse...

A Natália Correia dizia que a poesia era para se comer á mesa. Agora é de vender avulso pelas ruas e ainda por cima como coisa proibida com a polícia à perna? Tempos díficeis os que se vivem hein?!

mitro disse...

O nacional-parasitismo!
(Há sempre uns quantos dispostos a viver à custa de quem produz!)

Anónimo disse...

O quê agora não se pode vender Palavras , ai coitadas das minhas palavras livres, não serãO LIVRES DE SER VENDIDAS.
sE BEM QUE NINGUÉM AS COMPRARIA DE TÃO FRACAS.

eskisito disse...

Voltar aos tempos em que se trocavam bens essenciais. Aí a única lei que se aplica será a do bom-gosto.
Um abraço

Henrik disse...

Lá que vender palavras não se vende...se calhar os policias têm problema contra a venda de papel com coisas escritas...

Anónimo disse...

aliás, o António Costa só ganhou as eleições para a Câmara de Lisboa porque a sua principal promessa eleitoral consistia na regularização da situação fiscal da quantidade inestimável de pessoas que vendem poemas na rua.