Zé era um rapaz forte. Admirado por todos os da aldeia, cobiçado pelas raparigas e tudo o mais. Zé, como tantos outros, teve o azar de ir às sortes. Pior, teve o azar de as sortes lhe terem batido à porta, levarem-no para Lisboa e embarcaram-no num barco. Tiraram-no do barco e despejaram-no na Guiné. Zé só por duas vezes tinha saído da sua aldeia, para fazer o exame da quarta classe e para ir às sortes. À terceira foi de vez. A sorte levou-o a ver mundo. Levou-o a ver a capital e a galgar o mar, esse elemento que nunca vira.
Mas as sortes são matreiras. Despejaram-no numa terra de guerra, onde tinha de matar para não morrer. Mas Zé não desanimava, apesar do barulho das armas e da guerra e dos silêncios forçados no mato lhe revolverem os pensamentos. Era corajoso e, para além disso, as moças escuras não ofereciam grande resistência aos seus avanços libidinosos. E, quando se faziam mais difíceis, Zé não se deixava amolecer. Afinal de contas um homem com uma arma impõe respeito e, pior que isso, perde toda a inocência e ganha toda a perversão.
Até ao dia em que uma moça qualquer que violara lhe propôs uma sessão de sexo, onde lhe percorreu todo o corpo, mas todo mesmo, com umas ervas esquisitas. Zé não se importou. Era exótico até. E imaginava que nenhuma moça da aldeia seria despudorada o suficiente para igualar aquela moça de mamas rijas como granito.
Dias depois Zé começou a ter dificuldades em mijar. "Foda-se, pareço que estou a mijar vidros porra!", exclamava cada vez que tinha de se aliviar. Entretanto a guerra acabou e Zé regressou à aldeia. Mas já não era mais o rapaz forte, admirado por todos, cobiçado pelas raparigas e tudo o mais. Foi são, regressou insano. Comentava-se até que o "coiso" de Zé tinha caído por causa das mezinhas das africanas. E ficou conhecido como o "Zé das Telhas", a quem todos pagavam minis no clube recreativo e que, sempre que ouvia o barulho de um avião, fugia de casa em pânico e a gritar: "Estão a roubar-me as telhas de casa!"
Mas nunca ninguém se importou muito com isso. Tinham mais preocupações que as telhas do Zé e, assim como assim, a sua casa não era bem uma casa. Parecia mais um palheiro que outra coisa.