Andar de metro tem poucas coisas positivas. Tem a vantagem de nos colocar mais rápido num determinado ponto da cidade, mas, como nem tudo é perfeito, obriga-nos a subir e a descer escadas e mais escadas e a termos de passar por portas estreitas que parecem saídas da terreola do Frodo Baggins, em tamanho, não em estética, diga-se.
Outra das vantagens é a viagem de metro não ter pontos para distrair a nossa atenção. Não há paisagem para ver e, na ânsia de não se entrar no desespero de nos sentirmos vazios e autómatos, tentamos a todo o custo focar a nossa atenção ou em algum pensamento, ou em algum passageiro desconhecido e que tenha características peculiares. Tentamos radiografá-lo e imaginar-lhe uma vida, tornando-o assim um passageiro do nosso pensamento. A partir dessa altura já não se encara o outro como um outro, mas sim como uma personagem criada por nós num romance imaginário. É um exercício estimulante.
Mas mais estimulante ainda são as paixões metropolitanas, aquelas que duram os dez minutos que o metro demora a chegar da Baixa-Chiado a Sete Rios. Por vezes, deparamo-nos com mulheres que através de um gesto, de um trejeito ou de um olhar materializam aquele je ne sais quoi que não sabemos o que é, mas que nos agrada. E aí, começamos a imaginar tudo o que poderia ser mas nunca será, a cruzar e a desviar olhares. É como se contemplássemos uma obra prima que nunca será nossa, porque nunca sairá do museu. Esses instantes fazem-nos sonhar... e há quem diga que é bom sonhar e eu acredito.
Saídos do metro, a imagem desvanece-se e a paixão instantânea dissolve-se. Nunca mais nos lembramos dela, a não ser que tenha havido um olhar sorridente cravado na memória até sairmos da estação. Paixões subterrâneas que se apagam quando chegamos à superfície.
18 comentários:
Viva RB:
Muito interessante esta história da vida quotidiana.
Mas o "Metro" tem ainda mais coisas boas como sejam a de, á sua maneira, ajudar a manter um ambiente mais saudável.
Eu particularmente gosto de andar de "Metro" e, em Lisboa, é o meu único meio de transporte.
Foi com a Expo98 que, definitivamente, passou a ser o meu meio de deslocação de eleição.
Obrigado pela visista e comentário.
Um abraço,
Já não me lembro de andar de metro. Tenho carro, trabalho e moro em Oeiras. Mas nunca mais consegui esquecer uma cara sorridente de uma pequena que esteve literalmente colada a mim durante breves minutos (de uma estação a outra). E já lá vão uns anos valentes.
Olá, venho retribuir a visita e responder-te à questão que me colocaste:
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Viver em democracia e liberdade não nos permite dizer ou escrever o que nos dá na real gana.
A primeira exigência da Liberdade é a Responsabilidade.
Posso responder pelo que escrevo, mas ser responsabilizado pelos erros dos outros é coisa que não me agrada nada.
Aliás, este é um assunto que brevemente dará que falar/escrever na blogosfera.
De qualquer forma o blog será sempre “democrata”. A opinião não será nunca censurada, já a forma poderá ser.
Acho, para finalizar, que a forma como alguns blogs se apresentam, e os termos que utilizam, contribuem em muito para a depreciação da blogos. Exagero na apreciação e linguagem de carroceiro são coisa fútil.
É um problema que afecta uma melhor avaliação e valorização dos excelentes escritos que se encontram na blogos. E são muitos. Nos quais incluo os teus.
Como sempre pagam os justos pelos pecadores.
Com um abraço do Aprendiz.
E quando essa paixão instantânea se dissolve no WC da estação?
Se o olhar nos entra por dentro, nunca mais se esquece. Mesmo que tenha sido por escassos minutos.
Passa na minha estação: está lá um "par" que não é de olhos, que tenho todo o prazer em oferecer-te.
BJ.
Paixões de metro nunca tive, apesar de perceber o que queres dizer. Mas que me divirto imenso naquele transporte, lá isso divirto. Aliás, é a única maneira de levar aquela tortura com um sorriso nos lábios!
Gostei, está bonita a maneira como contaste ...vou jantar...beijos
Subtilmente alertaste-me para o erro.. obrigada.
Há já muitos anos que deixei de ser assídua do metro, outras paragens... Mas recordo-me, sobretudo do perscrutar de rostos, do imaginar algo com a duração de uma corrida... É a vida... e por vezes, algo fica na lembrança, que anos depois serve para... recordar.
Gostei .
Bj.
o underground da sedução em movimento.
Bom fim de semana
Não gosto do "sub". Do submundo, do subterrâneo, ou do submerso. Acho que nunca conseguiria ser um mineiro ou trabalhar num submarino. Mas ando com muito à vontade de "Metro" especialmente quando vou a Lisboa, talvez por ser o unico meio de transporte publico que sei usar. No "Metro" como muito bem dizes, porque não há paisagem que nos disperse, reparamos com mais atenção nas pessoas e seus comportamentos, e claro, fazemos os nossos filmes. Bom fim de semana
como são verdade essas tuas palavras. já me aconteceu também, mas eu sou demasiado sonhadora. se não fosse essa imaginação que nos ataca em viagens subterrâneas... e que as viagens de metro são demasiado monótonas
Gosto do metro pela rapidez. Detesto o metro por ser subterrâneo e em horas de ponta tornar-se claustrofóbico. Pelo menos, as paixões instantâneas - que também se podem viver no autocarro ou na mesa da esplanada enquanto se espera pelo café - ajudam a colorir o momento...
E as paixões não são mesmo isso? Vão e vêm, levam-nos para baixo e trazem-nos de volta à superfície quando vão embora ?
Isso não acontece só no metro! Acontece em todo o lado. Paixões momentâneas!
Eu imagino-as despidas, isso é faz o cérebro trabalhar!
Cumprimentos.
PS: RB, esqueci-me de dizer que o texto está excelente. Escreves muito bem!
imagem fantástica essa das "paixões subterrâneas que se apagam quando chegamos à superfície".
:)
o dia em que se escutou violeta, alaúde e sanfona foi assinalado aqui
Excelente texto!!
Gosto do metro pela rapidez, mas sempre tive aquele receio (claustrofóbico!) por ser "lá por baixo"... o terror de um acidente... mais do paixões momentâneas, tinha muito mais vezes terrores momentâneos - como se visse a carruagem como um aglomerado de ferros torcidos, muito fumo e pessoas assustadas. Eu sei, é macabro!! Mas era incontrolável. Sentia-me aliviada quando as portas abriam e podia sair daquele submundo. Então em horas de ponta, nem se fala!!
Quanto às paixões que tão bem descreves... paixões e encantos. Lembro-me de uma menina que ia acompanhada com a avó, muito extrovertida e simpática, mas que se escondeu muito envergonhada quando viu um casal de namorados a trocar uns beijinhos. Achei um piadão!! Encantador, inesquecível.
Excelente texto!!
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