segunda-feira, 18 de junho de 2007

Eu sou leitor ocasional "Do Portugal Profundo"

Hoje apetecia-me escrever sobre dança. Mas a minha mãe costuma-me dizer: "Na vida não se pode fazer só o que nos apetece" e penso que há um assunto que vale mais a minha reflexão do que o tema da dança. Trata-se do facto de António Balbino Caldeira ter sido convocado para ser ouvido como arguido no Departamento de Acção e Investigação Penal (DCIAP) (isto quando se escreve sobre coisas judiciais parece que as palavras nunca mais acabam e insistem todas em rimar), segundo informação veiculada pelo próprio, no âmbito do chamado "dossier Sócrates" (eu sei que há muita gente que escreve dossiê e talvez essa seja a forma mais correcta, mas eu sou teimoso e escrevo dossier). Ora bem, o autor do blogue "Do Portugal Profundo" foi o primeiro a publicar informações relacionadas com o percurso académico do primeiro-ministro português, o que serviu de fio de Ariadne para a catadupa informativa que depois se seguiu. Para além disto, e segundo a mesma fonte, o autor do blogue foi também notificado para prestar depoimentos enquanto testemunha num outro processo ligado ao mesmo assunto.

Desconheço qual o motivo concreto que levou o cidadão Balbino Caldeira a ser constituído arguido. Mas depois do caso da DREN, das declarações de directores de jornais sobre alegadas (bela palavra para livrar os tomates do cepo) pressões por parte do Governo em notícias relacionadas com a licenciatura de Sócrates e de outros incidentes, é caso para desconfiar se não nos andam a amordaçar e se já nos vendaram os olhos sem nos apercebermos.

E depois há a questão do ser-se arguido. Acho que só quem for ou já tiver sido arguido é que pode ser português. Penso até que só se pode conceder a nacionalidade portuguesa a quem já tenha padecido dessa situação. Estamos no país em que até ter um estendal numa parede é caso para se ser arguido (oooops, acho que isto está em segredo de justiça, amanhã é certo que nem ginjas que vou receber uma notificação da PGR a dizer que sou arguido no processo "estendais & roupa suja". Vou emoldurá-la e tudo).

Tudo isto para dizer que limitar a liberdade de expressão é feio e que, a confirmar-se que Balbino Caldeira não cometeu nenhuma acção que justifique ter sido constituído arguido, andam a brincar com o fogo. É que podem tirar-nos salários, emprego, benefícios sociais, qualidade de vida, mas quando se trata da liberdade de expressão, aí as coisas podem dar para o torto. Mas tem de se aguardar para ver que rumo esta história irá tomar. Se Balbino Caldeira foi constituído arguido apenas por ter publicado informação relevante, e obtida de forma legal, sobre a licenciatura do primeiro-ministro aplaudo a sua coragem. Parecendo que não, é mais fácil escrever textos sobre dança do que sobre assuntos incómodos (mas, que diabo, também deve ter muito mais piada).

Pois bem, a dança fica para amanhã.

7 comentários:

Marta disse...

Ainda és constituido arguido por falares de blogues suspeitos! :)

O menino dança? :)

astuto disse...

Não, não fales de dança! A liberdade e a justiça são os bens que eu mais prezo. Como dizes, que nos tirem o caralho da qualidade de vida e o resto... Mas a liberdade de expressão, isso não!

Anda tudo a pôr-se em bicos dos pés a chibar-se, que país mesquinho, parece que queremos ir todos para os tribunais! Eu nunca lá entrei mas tenho que ter cuidado com oestendal :-)

Bom blogue, estás "linkado". Cumprimentos.

O Aprendiz de Jurista disse...

É bom que as novas gerações (refiro-me às pós 25 de Abril) percebam o quão importante é que ABC seja defendido.
--//
First they came for the Communists, and I didn’t speak up,
because I wasn’t a Communist.

Then they came for the Jews, and I didn’t speak up,
because I wasn’t a Jew.

Then they came for the Catholics, and I didn’t speak up,
because I was a Protestant.

Then they came for me, and by that time there was no one left
to speak up for me.
By Martin Niemöller
//--
Pensem nisto…

eskisito disse...

Duas coisas:
A primeira é em relação ao "Dossier"...já somos dois.
Segunda: Revolução. No momento em que a liberdade de expressão nos for tirada, já passou o tempo de fazer algo.

SA disse...

tbém já ouvi falar desse caso... é a força que a blogosfera tem

Mulheka disse...

É o que faltava proibirem-nos de falar!!!!

Epá.. eu gosto de dança!!!!

Anónimo disse...

Eu não sei dançar mas consigo acertar o passo com os teus pensamentos.