"Olá, eu chamo-me… ah… chamo-me… esqueci-me do meu nome… como é possível? É a terceira vez que esta merda me acontece esta semana… Só um momento, vou ver se encontro o meu bilhete de identidade para me lembrar do meu nome… não encontro… olha que esta… onde é que já se viu… uma pessoa esquecer-se do próprio nome?
Mas se o meu nome tivesse importância com toda a certeza eu não me teria esquecido… já repararam? Esqueço-me do meu nome mas continuo a saber conjugar os verbos… estão a ver? A linguagem sim é importante, é por isso que eu não me esqueço dela… agora o nome, o nome não tem importância nenhuma… recordo-me agora que havia gente que me costumava tratar por vulva 24 horas…
Sabem que antes de ser bêbeda eu era agarrada… é verdade… acho que me chamavam vulva 24 horas pelos favores que eu fazia para me arranjarem uma dose… mas isso não importa… isso são outros tempos… são os tempos que fizeram com que o meu nome se apagasse da memória… e se reduzisse a uma simples alcunha… foram outros tempos…
Comecei a habituar-me ao álcool quando estava a fazer uma desintoxicação numa quinta perdida entre pinhais… acho que aquilo ficava mesmo no cu de Judas, se não era no cu de Judas era lá perto, p’raí na virilha ou assim… Aquilo tinha uma disciplina muito rigorosa, mas havia um gajo que levava vodka e gin lá para dentro… assim à socapa, estão a ver?... consegui deixar a heroína… mas abracei-me primeiro suavemente e depois violentamente à bebida…
Nem sei porque vim até aqui… estou aqui a falar da minha alcoolemia, mas só penso que quando sair daqui posso etilizar-me, destilar-me a noite toda, quando acordar, antes de adormecer, quando acordar outra vez… Eu sei que estou doente, sei que o álcool em mim funciona como uma patologia, é o meu pathos, estão a ver, uma puta bêbeda também sabe palavras em grego, não tem piada?
O que é que eu estava a dizer? Ah, que sabia que estava doente… mas não tenho a certeza se quero recuperar-me… é que eu acho que já não me lembro de mim antes de estar viciada em alguma coisa… tenho medo de voltar a recordar o meu nome se me recuperar… aliás, se eu me recuperar de certeza que tenho de arranjar outra coisa qualquer para me desrecuperar… a ideia de me reencontrar comigo é demasiado evangélica para eu a conceber… Que se lixe… ao menos venho até aqui e falo, falo, falo… sabe bem… um bocado de falo sabe bem… não… falo não… álcool… é por isso que aqui estou… pois… álcool…"
12 comentários:
São coisas que aconatecem amigo,,,, plo menos falas,,, o que é bom, e dizes algo,,,, o que é melhor ainda,,,, porque há aqueles que falam, falam, falam e não dizem nada,,,, parabens,,, excelente blog,,,,
"RB" te lembra algo? Não seria Regina Barbosa ou Rosa Bonita? Que importa, né? Se um dia fomos feios, hoje somos lindos pelo avesso.
Pelo menos sei que você é ela.
Um beijo e boa noite.
Isto um gajo já não pode ficcionar um bocado que pensam logo que somos uma mulher...
Eu diria, que tu hoje estás com os copos! :))
beijo
eheheheh sendo gajo ou não, sendo a história ficcionada ou não...é muio mais comum do que se pensa...apoisé!!:)De qualquer forma é um passado que um bom fato e um nice corte de cabelo, apagam num instante, pelo menos fora das quatro paredes!
boas noites:)
Seja como for, e face às perspectivas da juventude de hoje, uma garrafa de Beaujolais é sempre preferível à voz histérica de Sócrates.
Que bela crônica. Raramente leio algum post até o final. Assim como um livro, ele tem que me colar na tela.
O mais interessante é que nos deixa fervilhando a cabeça, se é um relato ou uma ficção. De qualquer forma, simplesmente sublime.
Parabéns RB.
Eu é assim mais a atirar para a "auguinha" lol
Copanzanas=P
Gostei.. Muitas vezes precisamos é de Falar. Acho que eu sou viciada em Falar. Antes de me sentir a vontade não abro a boca depois é um problema para a fechar hehehe.
Beijinhos e 5* po blog
Brilhante, para não variar.
Gostei muito deste texto...e tenho mesmo pena que não seja autobiográfico...mas, para isso terias de ser mulher e alcóolica. Pois, se calhar é melhor não.
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