Há muitas coisas que me fazem confusão. Uma delas é a expressão "fazedores de opinião". Isto porquê? Porque os ditos "fazedores de opinião" proliferam nas ditas democracias, onde é suposto os cidadãos pensarem pelas suas cabecinhas e construírem a sua própria opinião. Assim sendo, é paradoxal que em sociedades denominadas democráticas exista essa figura do "fazedor de opinião", como se as opiniões fossem construídas, pré-fabricadas, como se se tratasse de uma linha de montagem de opiniões. Mais irónico é o suporte utilizado pelos "fazedores de opinião" (imprensa, televisão, internet) que são, como os responsáveis pelos meios de comunicação gostam de os descrever, o baluarte da liberdade e um dos garantes dos sistemas democráticos.
Assim, das duas três: ou os fazedores de opinião assumem que todo o seu auditório é acéfalo e que pretendem influenciar a sua decisão; ou então têm de iniciar uma campanha recusando o seu estatuto de "fazedores de opinião", assumindo-se apenas como mais uma pessoa normal que quer partilhar a sua opinião.
Mas pior que os "fazedores de opinião" são os "líderes de opinião". O que é ser um líder de opinião? A opinião é uma competição, onde uns se destacam mais que outros, e ganham a "camisola do rei da opinião"? Mais ainda que os "fazedores", os "líderes de opinião" são um areal na engrenagem dos sistemas que se querem democráticos, ao jeito de um Novo Testamento pós-modernista em que os apóstolos seguem não o Messias, mas o "líder de opinião".
Outra coisa que me irrita nos "mestres da opinião" é serem especialistas em tudo e mais um par de botas e/ou depois virem com falsas modéstias, do género, "eu não sou técnico em engenharia, mas o novo aeroporto devia ser localizado em determinado lugar". Parecidos com aqueles a quem lhes perguntam: "Onde fica a Rua da Betesga?" e respondem: "Não sei, mas o Rossio é já ali...".
Como diria o outro: "As opiniões são como as vaginas, cada um tem a sua e dá-a quando quiser". Opiniões precisam-se. Dispensa-se é quem queira fazer da sua opinião um veredicto, um dogma, um postulado e que se veja a si próprio como um "fazedor" ou, pior que isso, um "líder" de opinião.
Mas depois há um problema: para quê emitir uma opinião, se realmente não queremos persuadir ninguém? Por exemplo, se alguém lesse este texto e pensasse "eh pá... olha que as coisas até são assim" confesso que ficaria satisfeito, enquanto se alguém respondesse "este fala dos que fazem opinião, mas está a tentar imitá-los e sem jeito nenhum para a coisa", aí a modo que me sentiria assim com a auto-estima um bocado ferida.
Que se há-de fazer? No início do texto referi que "há muitas coisas que me fazem confusão" e parece que a democracia e a opinião integram esse lote de "muitas coisas".
6 comentários:
É de facto um assunto interessante. A minha esposa também anda sempre às voltas com os opinion makers cá da terrinha...que basicamente vão desde o presidente até ao velhinho do banco de jardim.
Neste país inventa-se de tudo para se passar o tempo.
Muito bom!
Eu cá, concordo com a tua opinião! :)
Não há nada mais desinteressante do que uma pessoa sem opinião. Falar com alguém sem opinião é como conversar com o vazio.
Nada tenho contra os opinion makers. Assumo que influenciam as pessoas, mas não é essa a função deles? Eu leio e ouço os opinon makers e, se não for por mais, é por birrice, só para poder contradizer. Assumo que muitas vezes concordo com o que dizem. Nada é linear e eu nunca fui extremista.
Luther King era um opinion maker... ainda hoje milhões de pessoas dizem "I had a dream".
Obrigada por comentares o meu blog.
Catarina
Os "fazedores de opinião" funcionam bem para quem não consegue formar ou defender a sua, preferindo ir na corrente. Pelos vistos pertences ao clube dos salmões, tal como eu.
Um abraço!
PS: é verdade, obrigado pela linkadela, já retribuí!
o problema é que a lavagem cerebral é de tal forma intensa que as pessoas deixam de ter opinião própria e aceitam os ditos dogmas sem qualquer contestação....
Olá.
Seu post nos faz refletir. Nunca havia parado para pensar nesse assunto...você tem razão. Mas creio que em toda sociedade existem os fazedores de opinião. Normalmente são pessoas públicas como artistas, políticos, lideranças, etc e isso acontece muito nos países ou cidades onde as informações são distorcidas pela mídia venal. Um grande ídolo tende a ser seguido em todas as culturas. Não deveria ser assim. Mas aqui por exemplo tiraram a filosofia do ensino fundamental para que não soubéssemos pensar.
Um abraço.
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