quarta-feira, 13 de junho de 2007

A confusão dos códigos sociais

Nunca me adaptei muito bem a códigos. Nem sequer tiro a carta de condução, tudo por causa do código da estrada. Também não sei combinar a minha roupa, o que denota um grande desconhecimento do código do vestuário, e não sou grande fã do código do trabalho. As disciplinas de Ciências Sociais que menos aprecio são aquelas que têm como base de estudo os códigos, tipo Semiologia e Semiótica.

Mas os que não se conseguem adaptar a códigos, nunca terão muita sorte na vida, porque, queiramos ou não, todas as relações sociais são regidas por códigos. E o facto de não os respeitar leva-nos a pensar: "Mas o que estou aqui a fazer?". E se os códigos sociais fossem fáceis de compreender, vá, a coisa ainda que se compunha. Mas não são.

Exemplos:

Uma senhora idosa aproxima-se do lugar onde estamos sentados no metropolitano. Lenvantamo-nos para lhe dar o lugar e ela não se senta. Toda a gente olha para nós com aquele ar: "Que ganda otário". Mas se uma senhora idosa se aproximar do nosso lugar e não nos levantarmos , toda a gente olha para nós com aquele ar: "Já não há respeito".

Vamos a uma conferência sobre um assunto qualquer e o orador, que sabe muito mais daquele assunto que nós, pergunta: "Sabem porque se chama bull market quando as bolsas sobem e bear market quando as bolsas descem?". Se respondermos: "Por causa da direcção do movimento de ataque do touro e do urso", fica toda a gente a olhar para nós de esguelha, como que a dizer: "Lá está ele outra vez a armar-se em espertinho". Por outro lado, se dissermos: "Não, não sei", lá fazem aquele sorriso condescendente como que a perguntar: "Como é possível tanta falta de cultura financeira?".

Encontramo-nos com uma pessoa do outro sexo e ela estende a mão para nos cumprimentar, quando nós já vamos com a cara disparada para dar dois beijinhos, e a outra pessoa pergunta: "Mas já andei a guardar ovelhas consigo?". Se, por outro lado, escaldados que estamos de nos chamarem pastores, estendemos a mão porque os dois beijinhos já não se usam, a outra pessoa olha para nós com aquele ar de que temos mesmo "ar de não me toques".

E quase que podia preencher o ciber-espaço com exemplos de pequenas entropias sociais que provam a dificuldade de entender e interpretar o código social, mas textos muito longos também quebram o código da blogosfera, não é?

13 comentários:

Catarina Soutinho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
bela lugosi`s dead (F.JSAL) disse...

Extremamente divertido e acutilante este post. Isto dos códigos tem muito que se lhe diga, mas uma coisa parece evidente, eles existem para ser quebrados, senão atente-se no número de multas de trânsito passadas diariamente, na sobrelotação dos estabelecimentos prisionais, das igrejas e confessionários aos domingos, no número de cartões amarelos e às vezes vermelhos exibidos num jogo de futebol, ou no número de divórcios...xiiii...definitivamente os códigos existem para serem constantemente recodificados.

Catarina Soutinho disse...

O melhor código é sempre o genético. Pelo menos podemos culpá-lo por todas as nossas estúlticias

Catarina Soutinho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

vivemos presos em regras, conceitos, preconceitos, códigos... tamos cada vez mais parecidos com automatos, enfiam 1 chip e vai disto... se há 1 falha no sistema, elimina.s o "problema".......
é + facil apontar o dedo do k aceitar a diferença...
***
ah gostei da forma divertida como lidas com a escrita!!!

Unknown disse...

Gostei! Post com muita «pinta»!

Marta disse...

Depois de um texto destes já nem sei o que comentar! Não sei bem o que podes pensar! ehhhh

( gosto muito do teu blog ) :)

bjs

Laurentina disse...

Olha que máximo...boa malha essa da interacção dos códigos!
Mas não vale a pena uma pessoa preocupar-se muito com eles , porque se não acaba a viver num códigometro...eheheheheheh
Beijão grande

Mulheka disse...

És um tipo inteligente!
E quando vais a dar dois beijinhos mas quando vais a caminho do segundo a pessoa tira a cara? Que stree! Uma próxima vez não sabes o que hás-de fazer! Se um, se dois!

sapiens disse...

essa é que é essa, os codigos sociais são um quebra cabeças. Faço minhas as tuas palavras, para mim sempre foi complicado assimilar tudo aquilo que é codigo social... desde o saber a quem devo de dizer , "olá", "bom dia" ou "boa tarde" , até saber a quem tenho de dar beijinhos ou apertos de mão. Pessoalmente fui fazendo as minhas escolhas , detesto bons dias e boas tardes enquanto mensagens futeis que se transmitem a quem não conhecemos mas que é socialmente reconhecido que habitamos na mesma zona e como tal devemos de cumprimentar-nos.. pessoalmente também , no que respeita aos beijinhos nunca fui adepta, sempre preferi um bom aperto de mão ou em casos mais especificos prefiro sempre um abraço a um beijinho, obviamente perante estas escolhas de vida , calha-me sempre , no primeiro caso o rotulo de "mal educada" , e na segunda situação o de "rude" ou de "indelicada"... enfim sociabilidadezinhas chatas que nos causam sempre o amasso da decisão e nos minam a cabeça apos decidirmos.. o que será que os outros ficaram a pensar? terei agido bem?

eskisito disse...

Por acaso, às vezes também me sinto confuso com o que se deve ou não fazer...mas depois armo-me em parvo e passa...que é como quem diz, se é para fazer figuras, que faça em estilo

dirty.lollipops disse...

gostei muito deste post, talvez por tambem nao me dar muito bem com codigos sobre isto e aquilo.. os codigos deviam ser mais claros, e não tão frequentemente alvo de interpretações diferentes.. se são subjectivos, como é q podem abranger o publico de forma objectiva?

Anónimo disse...

Parabéns! excelentes exemplos dos nossos códigos, sem sociologues, na prática. Espetacular, caro amigo, e em uma prosa divertida. abraços de São Paulo - BR