Nunca me adaptei muito bem a códigos. Nem sequer tiro a carta de condução, tudo por causa do código da estrada. Também não sei combinar a minha roupa, o que denota um grande desconhecimento do código do vestuário, e não sou grande fã do código do trabalho. As disciplinas de Ciências Sociais que menos aprecio são aquelas que têm como base de estudo os códigos, tipo Semiologia e Semiótica.
Mas os que não se conseguem adaptar a códigos, nunca terão muita sorte na vida, porque, queiramos ou não, todas as relações sociais são regidas por códigos. E o facto de não os respeitar leva-nos a pensar: "Mas o que estou aqui a fazer?". E se os códigos sociais fossem fáceis de compreender, vá, a coisa ainda que se compunha. Mas não são.
Exemplos:
Uma senhora idosa aproxima-se do lugar onde estamos sentados no metropolitano. Lenvantamo-nos para lhe dar o lugar e ela não se senta. Toda a gente olha para nós com aquele ar: "Que ganda otário". Mas se uma senhora idosa se aproximar do nosso lugar e não nos levantarmos , toda a gente olha para nós com aquele ar: "Já não há respeito".
Vamos a uma conferência sobre um assunto qualquer e o orador, que sabe muito mais daquele assunto que nós, pergunta: "Sabem porque se chama bull market quando as bolsas sobem e bear market quando as bolsas descem?". Se respondermos: "Por causa da direcção do movimento de ataque do touro e do urso", fica toda a gente a olhar para nós de esguelha, como que a dizer: "Lá está ele outra vez a armar-se em espertinho". Por outro lado, se dissermos: "Não, não sei", lá fazem aquele sorriso condescendente como que a perguntar: "Como é possível tanta falta de cultura financeira?".
Encontramo-nos com uma pessoa do outro sexo e ela estende a mão para nos cumprimentar, quando nós já vamos com a cara disparada para dar dois beijinhos, e a outra pessoa pergunta: "Mas já andei a guardar ovelhas consigo?". Se, por outro lado, escaldados que estamos de nos chamarem pastores, estendemos a mão porque os dois beijinhos já não se usam, a outra pessoa olha para nós com aquele ar de que temos mesmo "ar de não me toques".
E quase que podia preencher o ciber-espaço com exemplos de pequenas entropias sociais que provam a dificuldade de entender e interpretar o código social, mas textos muito longos também quebram o código da blogosfera, não é?
13 comentários:
Extremamente divertido e acutilante este post. Isto dos códigos tem muito que se lhe diga, mas uma coisa parece evidente, eles existem para ser quebrados, senão atente-se no número de multas de trânsito passadas diariamente, na sobrelotação dos estabelecimentos prisionais, das igrejas e confessionários aos domingos, no número de cartões amarelos e às vezes vermelhos exibidos num jogo de futebol, ou no número de divórcios...xiiii...definitivamente os códigos existem para serem constantemente recodificados.
O melhor código é sempre o genético. Pelo menos podemos culpá-lo por todas as nossas estúlticias
vivemos presos em regras, conceitos, preconceitos, códigos... tamos cada vez mais parecidos com automatos, enfiam 1 chip e vai disto... se há 1 falha no sistema, elimina.s o "problema".......
é + facil apontar o dedo do k aceitar a diferença...
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ah gostei da forma divertida como lidas com a escrita!!!
Gostei! Post com muita «pinta»!
Depois de um texto destes já nem sei o que comentar! Não sei bem o que podes pensar! ehhhh
( gosto muito do teu blog ) :)
bjs
Olha que máximo...boa malha essa da interacção dos códigos!
Mas não vale a pena uma pessoa preocupar-se muito com eles , porque se não acaba a viver num códigometro...eheheheheheh
Beijão grande
És um tipo inteligente!
E quando vais a dar dois beijinhos mas quando vais a caminho do segundo a pessoa tira a cara? Que stree! Uma próxima vez não sabes o que hás-de fazer! Se um, se dois!
essa é que é essa, os codigos sociais são um quebra cabeças. Faço minhas as tuas palavras, para mim sempre foi complicado assimilar tudo aquilo que é codigo social... desde o saber a quem devo de dizer , "olá", "bom dia" ou "boa tarde" , até saber a quem tenho de dar beijinhos ou apertos de mão. Pessoalmente fui fazendo as minhas escolhas , detesto bons dias e boas tardes enquanto mensagens futeis que se transmitem a quem não conhecemos mas que é socialmente reconhecido que habitamos na mesma zona e como tal devemos de cumprimentar-nos.. pessoalmente também , no que respeita aos beijinhos nunca fui adepta, sempre preferi um bom aperto de mão ou em casos mais especificos prefiro sempre um abraço a um beijinho, obviamente perante estas escolhas de vida , calha-me sempre , no primeiro caso o rotulo de "mal educada" , e na segunda situação o de "rude" ou de "indelicada"... enfim sociabilidadezinhas chatas que nos causam sempre o amasso da decisão e nos minam a cabeça apos decidirmos.. o que será que os outros ficaram a pensar? terei agido bem?
Por acaso, às vezes também me sinto confuso com o que se deve ou não fazer...mas depois armo-me em parvo e passa...que é como quem diz, se é para fazer figuras, que faça em estilo
gostei muito deste post, talvez por tambem nao me dar muito bem com codigos sobre isto e aquilo.. os codigos deviam ser mais claros, e não tão frequentemente alvo de interpretações diferentes.. se são subjectivos, como é q podem abranger o publico de forma objectiva?
Parabéns! excelentes exemplos dos nossos códigos, sem sociologues, na prática. Espetacular, caro amigo, e em uma prosa divertida. abraços de São Paulo - BR
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